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Monday 15 August 2011

DIÁLOGO COM UMA ÁGUIA

Diálogo com uma águia

Fui jantar hontem ao palácio. Estava lindo! Felizmente ninguêm. Tudo deserto. Quando eu desci do restaurante, a accender um Laferme com preguiça, caía a tarde de outono em vitrais ricos p'ralêm das ramarias a despir-se. Passeei algum tempo na avenida, e sem saber porquê, indo ao acaso, fui estacar nesse recanto triste onde mora engaiolada uma águia velha. Há que tempos conheço êste mostrengo, num abandono de asilo, de ar pedinte, com asas que diríeis paralíticas, de um tom coçado e neutro de miséria!... Uma águia isto, êste espantalho! A decadência reles de estas asas que tanta

{12} vez olhei com indiferença, nem eu sei bem porquê, impressionou-me. Um animal de fábula, de mito, um ser que bebeu sol de olhos abertos, curvava as garras frouxas num poleiro, e depois de carnagens e aventuras, encolhido, misérrimo, com fome, acabava a aspirar a um meio-bife, como um vadio à porta de um café. Coitada! Teve uma forma assim aquela águia que saboreou Prometeu numa montanha!
gaiola está sórdida, está imunda. Antes estivesse empalhada num museu, ou no quarto de trabalho de um zoólogo, sócio da Academia, homem de estudo, que ao voltar da rua ou da glória, lhe pendurasse do bico o chapéu alto. Coitada! Coitada! E notei com um calafrio, que pronunciara alto êste «coitada», com uma voz que a mim mesmo surpreendeu pela inflexão perturbante de quinto acto. Olhei a águia. Vi-a encolher-se tôda, contrair-se, enclavinhar as garras no poleiro, como a uma dor aguda que a varasse. Encarou-me por fim, olhou-me todo, fazendo-me corar dos pés ao côco,{13} e com uma voz que não era a voz da fábula, sem nada de lendário, sem estranho, com uma voz normal de velha beata, arrastada e roufenha, quasi gaga, cacarejou num tom de dor e mofa:
—Ao que eu cheguei! Ao que eu cheguei! Já tem pena de mim isso aí fora... Antes estar morta e podre, antes estar podre...
Estarreci. Não era o impossível realizado dessa carcassa de águia a falar alto, a falar como eu, que me empedrava: nem sequer o estranhei naquele instante; mas o dolorosíssimo desprêzo com que ela me chamou isso aí fora, com que ella ouviu que um isso a lamentava. Deitei fora o cigarro bruscamente, compus um momo frio de desdêm escondendo a irritação que me excitava, e premindo a bengala contra o queixo, retorqui-lhe benévolo e grosseiro:
—Não percebo o seu desprêso, não me atinge. Eu não disse «coitada» p'rá ofender. É sempre triste ver uma águia presa, mas numa gaiola, assim, é lamentável. P'ra mais,{14} conforme vejo no letreiro, foi um comendador que a ofereceu... E a gaiola...
—Que tem? Falta de estilo?
—Está cheia de excrementos. Está indecente.
—Já não diria isso se os visse cair de alto, no deserto, sôbre o granito cariado duma esfinge... Scenários, digo-lho eu, literatura...
Eu então requintei de pedantismo, e perguntei-lhe a rir de que alta estirpe, de que águias reais, de que família, ela veio a cair neste poleiro onde agora a ouvia perorar num claro entardecer de intimidade, com idilios de guardas e criadas, raros bebés jogando às escondidas e um homem a varrer as fôlhas sêcas. Coçava-se a hesitar, com o bico baixo. Sacudio as longas asas poeirentas e com uma voz de sono, começou:
—De alta estirpe, sim, de uma família de águias antiquíssima. Uma das minhas ancestrais, como agora se diz, fêz viagens épicas na Judeia, e num crepúculo de assombros, abrindo com as garras uma cordilheira{15} de nuvens, vio pregado na cruz o Hebreu Doce, e logo desceu ao morro numa gula tão doida, que ensanguentou no ar de sêda as asas bravas... Rasgou o peito magro do Homem-Deus, e ficou doida para sempre, doida, doida, na alucinação dêsse manjar patético, de martírio divino e desespêro. Porque ela ouviu a confidência do Heroi meigo... Mas não posso contar-lha, nem mais pio! É um segrêdo de família, é o meu segrêdo.
Amuei, retorqui num tom mimalho:
—Mas então, se não podia contar, p'ra que me falou nisso? Eu sou de uma curiosidade feminina. Já não saio daqui sem que mo diga.
—Mau! O senhor é uma criança. Que tolice! Dezenas e dezenas de avós meus, gerações e gerações de águias marinhas, levaram o segrêdo herdado e não traído, que nem ao sol, que é o deus das águias, revelaram. E quere agora o senhor com um papelzinho que lhe custou uns cobres (se o pagou) violar o murmúrio que tem séculos,{16} e é a última vibração daquele espírito que vestiu de nebulosas tôda a Vida... Sabe que mais? Estou já arrependida de falar.
—Não se zangue. Juro-lhe, juro-lhe que não digo nada a ninguêm. Se soubesse o que eu sei!... Segredos de família, dramas... dramas...
Esperei um instante ansiosamente. A águia inteiriçou-se, sem me olhar, bicando longes de memória, de saudade:
—Não sei que tenho hoje. Velhice, morte próxima talvez, pressentimentos... Quando essa avó longínqua cravou as garras no peito d'êsse Réu, e lhe bicou o coração e bebeu sangue, sentiu que enlouquecia, que era outra... Como se ferisse uma irmã, teve remorsos; fixou os olhos bêbedos de sol nos olhos d'Êle, refrescou-lhe com as asas a cabeça, empastada em suor, de um verde lívido...
A cruz que estremecia, ficou hirta. E foi então, foi então que Êle lho disse...
—Mas o quê? O quê? Diga depressa.
—O segrêdo, senhor, o meu segrêdo.{17}
—Mas qual é afinal? Quere torturar-me...
—Renegou-se a Si-mesmo. Retractou-se! Disse o remorso de não ter vivido, a tristeza infinita, o desespero e o mal sem remédio de ser virgem, de morrer no corpo morto de uma árvore, único corpo que sentiu, o de um cadáver... As estrêlas que nasciam no céu dúbio eram pr'ó Moço Hebreu pólen doirado, e a sua alma moribunda abria tôda como os hortos ideais da Galilea... O peito arqueou-lhe mais, contracturado... Queria largar a cruz p'ra poder dar-se, à terra dêsse cerro, a alguma forma, a um corpo de mulher, a alguêm, a alguêm...
A voz da multidão pela ravina era um marulho de ressaca mui confuso, e Êle sentiu entre pragas e risadas, entre os lamentos e os insultos que silvavam, sentia vozes de mulher... ouviu, ouviu-as... Só elas Êle ouviu, ouvia sempre... Queria falar ainda, quis falar-lhes e pedir-lhes perdão do que lhes disse, com parábolas mentirosas{18} de doçura e com olhos de lago sem desejo... Esvaía-se em sangue, ia azulando. Foi então que a minha avó num voo lento, lhe emmoldurou nas asas côncavas a Face... e que ela ouviu, senhor, e que ela ouviu...
Calou-se um instante imóvel no poleiro. Reparei. Era o guarda que passava.
—Já não sei onde ia. Estou com febre. Ah! No que ouviu a minha avó naquele instante... Quando eu penso nisso, quando penso... Imagine, se pode, ora imagine... Êle que era um Adivinho, Êle o Vidente, num dêsses instantes de génio que abrem séculos, previu, previu bem claramente, como se mentiria à Vida em nome d'Êle, a morte da Beleza e da Alegria, a Tristeza e a Doença em nome d'Êle, séculos e séculos de vida envenenados por o sangue de amor que Êle vertera, e iria embebedar os homens muito tempo, para sempre talvez, talvez p'ra sempre. Sentiu então que a querer salvá-los, os perdera... Certo, êsse instante de dor sempre ignorado{19} foi o maior de dor que alguêm viveu. E como Êle a diria, como...
—Em que língua falou? Foi em hebraico?
—Foi na língua das asas que Êle o disse. Não lha posso ensinar, já me não lembro. Quando me engaiolaram, esqueci-a. Mas que impressão lhe faz o meu segrêdo? Se os homens o soubessem, seria Êle na verdade o Redentor...
—Sim, sim. É bem justo o que me grasna. Shelley tê-lo-ia amado como irmão, e Nietzsche, o próprio Nietzsche...
—Bem sei. Êsse afirmou com pompa lá p'rò Norte, que Êle decerto se teria retractado se tão cedo o não crucificassem. Foi minha mãe que o disse a Zaratustra. Zaratustra ouviu mal, não disse tudo. A verdade é assim, como eu lha conto. Parece que os homens riram do filósofo, acharam tudo isso uma tolice...
—Acharam...
—E afinal êsse Hebreu crucificado, no instante supremo de tortura, quando p'ralêm{20} das nuvens o esqueciam, chamava só por Pan, o grande Pan! Se os homens soubessem isto e o entendessem, teria o grande Pan ressuscitado. Seriam brancas estas pobres asas.
—Brancas? Porquê?
—Durante séculos tivemos asas brancas, todas nós, águias da minha estirpe. Foi só depois que Pan morreu, que elas ficaram pretas, como luto. Quem se lembra de Pan por êstes tempos?...
—Os que sabem amar, os que ainda amam.
—Os que sabem amar!... Êsse Hebreu mesmo só conheceu o Amor no alto da cruz. Viveu como um fantasma transparente, com sonho nas artérias e nos olhos... Só escoado em sangue, no madeiro, viu nos olhos da minha avó sanguissedenta, dois espelhos do Amor, irmão do sangue...
Conhecem lá o amor aves de presa!
A águia crispou as garras no poleiro e casquinou um riso muito sêco, que soava{21} sem timbre, como tosse. Depois mudou de aspecto. Começou a tremer, tôda friorenta, as asas como andrajos mais pendidas, e nos olhos de febre, muito fitos, uma grande saudade que varava.
—O amor das águias... o amor das águias...
—Que tem? Está comovida. Conte-me o seu amor. Sou todos ouvidos.
—O meu amor... o meu amor... Já me não lembro. Já não posso dizer-lho. Vai tão longe!... Sou uma velha tonta, sem memória, um farrapo de penas para escárnio. Nem olho o sol em face há muito tempo. O meu amor... o meu amor... Já me não lembro. Coisas sem forma... nuvens... nostalgias...
Fêz uma pausa. Parecia mais adunca, mais mirrada.
—No convés de um navio abandonado, amei no mar do Norte, aos vagalhões, noites e noites, bêbeda de espuma... Havia a bordo um marinheiro morto. Lembro-me bem. Que noites! Que mar alto!...{22}
Tive um ninho e filhos pequeninos, num jardim vago, ao sol da meia-noite... Que silêncio! Sentia-o a passar por entre as garras...
Ensandeci de gôzo no deserto... Ouvi a Esfinge falar, ouvi a Esfinge, quando o sol lhe fendeu todo o granito, pôs ranhuras de dor nos olhos átonos, e escancarou a bôca em rictos duros... O que eu ouvi à pobre?
Soluçava!... Eis o inigma afinal, o grande enigma, à hora das miragens, do delírio, quando o sol enraivece, é só desejo, e o deserto urra no silêncio, e as areias escaldam e o ar zune... Amei... amei... amei na terra tôda... Desfraldei o desejo, cravei garras. Olhei o mar saciada e compreendi-o.
—Tem saudades do mar, aí na gaiola?
—Como um marinheiro preso... doidamente... O que eu viajei, o que eu viajei por sôbre a espuma!... Sei as lendas do mar como ninguêm. Contou-mas numa rocha um corvo antigo. Como sabe, os{23} corvos vivem séculos... Sabia-as todas êsse velho amigo... naufrágios e terrores... dramas da névoa... O mar! O mar! O que eu amei no mar! Mas o senhor não compreende, o senhor não sabe. Que sabem do Amor os homens todos?... Foi êsse Hebreu, sem querer, que os desgraçou. Fizeram ao Desejo o que fazem às águias quando podem... Está como eu o Desejo: engaiolaram-no! Fizeram do Amor isto... um dever! Um dever... um dever... um dever triste! Empalaram-no em leis, codificaram-no. Até fizeram isso... o casamento! E vivem em gaiolas, os seus lares! Raça de escravos! Se êsse Hebreu os visse...
—A senhora é uma águia, não percebe... Eu não posso explicar-lhe a Sociedade...
A águia olhou-me com um desprêso frio.
—O quê? Não sei? Sei mais do que Balzac. Eu li-o todo em casa de um burguês. Vivi lá dez anos de amarguras. Estive presa primeiro no quintal. Depois cortaram-me{24} as asas e soltaram-me. Soltaram-me mutilada pelas salas... Canalha! O que eu odeio os homens... As crianças, veja o senhor os anjos!... arrancavam-me as penas, espetavam-me o corpo com agulhas, e um dia um criado, na cozinha, tentou picar-me os olhos às risadas, a rir, a rir... como só riem homens. Sofri dez anos entre essa canalha. Era uma gente séria, muito séria. Vi a Família, a Tradição, vi tudo. Não queira argumentar, não diga nada. Sou uma águia, mas conheço os homens.
—De acôrdo. Eu não duvido. Não quero discutir, não argumento. Mas falamos do Amor, e apenas digo que há ainda quem ame sôbre a terra... gente da minha espécie... homens... homens... O amor, há-de a senhora concordar, não é um monopólio de asas nómades... Um bípede implume tambêm ama. É raro, eu sei, amor genuíno, é raro. Mas existe ainda, afirmo-lho eu, existe ainda...
—Que novidade! Pois não lhe disse já{25} que li Balzac? E viajei, e vivi mais do que pensa.
Parou um instante, o olhar scismático, sem foco:
—... Uma vez, num céu da Andaluzia, vi num jardim mourisco dois amantes. Senti o cio encrespar-me as asas largas e desci p'rós ver de perto na luz de ouro... Era na paz de uma cidade morta. Pousei num dos ciprestes do jardim. Tinha uma taça de alabastro esverdinhada, e uma água glauca que cheirava a febre. Era junto da taça que se amavam, sob a garra do sol, loucos de raiva. Fiquei quêda a aspirá-los muitas horas. Que corpos fortes! Eu achava-os lindos. Dormi na torre da igreja, numa gárgula, e de manhã voltei p'rós ver ainda. E assim dias e dias... Uma vez demorei-me, vim mais tarde, e encontrei-os imóveis e enlaçados. Tanto tempo os vi assim e tão imóveis, que pensei: estão talvez mais que adormecidos...Desci. Bati-lhes com as azas nos cabelos. Cravei as garras devagar nos seios dela... Estavam{26} mortos! Julguei então enlouquecer de gula. Devorei, devorei, até à noite... Lembro-me que sorvi os olhos dela. Estavam secos de amor. Eram cinzentos...
—Que horror! O que a senhora fêz!...
A águia ergueu as asas num espanto e tornou a fechá-las lentamente. Depois, com grande enfado, foi dizendo:
—Que absurdos macacos são os homens! São os animais mais torpes que eu conheço. Como tudo que vive, como todos, só pensam em gozar, gozar a vida... e com esta obsessão a estorcegá-los, prendem-se os braços, castram os desejos, adoentam-se, torcem-se... progridem. Querem morder, morder bem fundo... e beijam-se; sentem calor e andam ao sol vestidos; amordaçam o instinto, os imbecis!... Encerram o desejo nas alcovas, onde não entre sol, sombra de lua... Tem estatutos, cláusulas, parágrafo. Não fecundam a amar, são fabricados: são produtos de indústria os homens de hoje! Chamam a isto Civilisação. Não vivem por viver: tem{27} deveres a cumprir, obrigações... E tudo isto em códigos, sistemas, em religiões, teorias, em morais!... P'r'ós que tentem ser homens a valer, há prisões, há leis, ha tôda a Ordem! Existem já na terra há muitos séculos, e ainda não começaram a viver... ou, se viveram, foi na Pre-História ou na Pre-Lenda! Que macacos absurdos! Que macacos!
—Mas pare um instantinho, oiça, oiça...
—Não me mace, senhor, não me interrompa... O que mais os consome e os faz grotescos, e os enche de vaidade, é a Consciência, o Espelho, o Guia, o grande Guia, que os levou a isso que são hoje...
Atalhei, como quem aponta um cumplice:
—A culpa foi dêsse Hebreu de quem falámos. Talvez se o seu segrêdo se soubesse...
—Não foi só d'Êle, foi de muitos outros... Antes d'Êle e depois..., de muitos outros.
Tremeu-lhe o corpo todo. Arrepanhavam-se-lhe{28} as penas. Estava outra. Via-a transfigurar-se com espanto.
—O senhor é bem um homem. Não se pode nutrir sem illusão. Quando há pouco lhe disse o meu segrêdo, dei-lhe a entender que se êle se soubesse, havia na verdade um Redentor, os homens viveriam sôbre a terra. Tive pena de si que é um desgraçado. Sempre lho digo agora: era inútil! Conheço bem os homens por meu mal. O segrêdo do Hebreu que lhe contei, não é um caso único: é de sempre. Á hora de morrer—a uma águia, aos lençois ou ao travesseiro, todos os homens tem como êsse Hebreu, um segrêdo supremo a revelar. É apenas isto: a confissão de que morrem sem viver.
Continuou depois com o bico alto:
—Os homens são uma espécie condenada. São bastardos de planta e de fantasma.[1]Quem disse isto? Não sei... estou sem memória. Raça de escravos vis,{29} raça de escravos! E p'ra fugir à Vida o que inventaram! Como trabalham, suam e tressuam!... Dissecam tudo, árvores e pedras, fecham-se em quartos a estudar micróbios... E cada dia são mais desgraçados, mais fracos, mais inquietos e mais tristes!... Cada dia se embrulham mais em roupas, põem mais vidros nos olhos, tem mais mêdo... E cada dia fogem mais à vida! Que imbecis! Que imbecis! Que espécie torpe!
Sentia-me exaltado, nervosíssimo. A voz saíu-me estrangulada, rouca, em sobressaltos, brusca, sem fluência:
—A senhora diz coisas que me espantam, que por vezes são justas e terríveis, mas há outras tambêm que não entende, que não pode entender, sim, que não pode. É natural. A senhora é de outra espécie. Tem vivido com os homens mas é águia... e águia ficará até morrer.
Parei. Sentia-me vazio, em suores álgidos, quási incapaz de articular palavras. Ela então, com a plumagem toda crespa, transfigurada{30} agora, agora outra, já com metal na voz, interrogou-me:
—O quê? O quê? O que é que eu não entendo?
Sem recursos, nulo, desvairado, atirei-lhe êste lugar comum, como se estivesse a falar com um jornalista:
—Por exemplo: o Sentimento, a Beleza moral que há no Universo!
Vi-a saltar do poleiro, esvoaçar, bater asas de fúria nos arames, e recaír depois na mesma pose, a arquejar, asmática de raiva. Ficou assim sem fala ainda algum tempo. Apeteceu-me fugir. Tive vergonha. A voz dela por fim veio em arestas, ferindo o meu orgulho já ulcerado:
—A Beleza moral!... O Sentimento! Que fizeram com isso?... Que fizeram? A Harmonia social, êsse concerto que é de rasgar os olhos e os ouvidos. A fome, a revolta, o desespêro... A raiva de saber, de analisar, de fechar em teorias toda a Vida... A Dúvida, a loucura metafísica, e o culto da dor, êsse onanismo!... A impotência em{31} tudo, a impotência... E por paródia à luta de viver, uma luta sem garras, enluvada, um ódio triste e covarde, corrosivo; a intriga e a cilada pela fôrça; a caridade que é o egoísmo doente, e o culto dos ídolos, os cultos, a escravidão aos deuses e às ideias... A Harmonia social... essa gaiola onde vivem a uivar os homens todos!
Dava gritos estrídulos, sarcásticos: as penas erriçavam-se de fúria.
—Oh! O ódio dos homens, que grotesco! E há classes opressoras e oprimidas, com fórmulas, com cláusulas, com leis!
Não é o ódio celular, contracturante; não é o ódio animal todo de instinto; não é o ódio de todos quantos vivem! O ódio dos homens foi canalizado, por seitas, por classes, por partidos, em dogmas, preconceitos, covardias. Nos outros animais o ódio é orgânico! Todo o combate é sempre pela Vida. O dos homens é anémico, missérrimo, e defende o dever, o preconceito, as taras de domínio e servidão, e até mesmo na revolta é miserável, pautando a Vida, sistematizando.{32} É o ódio da paródia de viver, do fantasma de Vida que êles vivem!...
Parou. Eu estava como tonto, desvairado. Tinha decerto endoidecido essa águia velha, delirava, dizia só loucuras; mas eu não achei nada para opor-lhe, p'rà aniquilar nêsse silêncio de fadiga. De súbito lembrei-me: a Arte, a Arte, tôda a minha quimera de mãos postas!
Sentindo-me desta vez irredutível, gritei-lhe p'rà gaiola:
—E a Arte? A Arte? Consolação suprema de viver...
Teve farpões de escárneo ao responder-me:
—A Arte!... A Arte é a expressão da Vida. São os homens que o dizem, não é assim? Ora se êles não vivem, se não vivem, se parodiam a Vida a cada instante, se fogem mais e mais da grande Vida, a Arte é uma paródia de paródia, um espectro de espectro... miserável! Querem com tintas imitar o céu, e transcrevê-lo em lonas, em madeiras!... O céu bebe-se aos haustos,{33} com os olhos; olha-se por olhar, sem intenção; recebe-se nas pupilas extasiadas, que se alargam mais com sêde dêle... É o que faz um sapo a olhar os astros! É o que os homens não compreendem nunca! Toda a terra é feliz se o sol a doura; tudo germina, as pedras e as sementes... Só os homens que se cobrem p'ra evitá-lo; que nas cidades gastam horas a vestir-se; que tem por céu só um paninho côncavo a que chamam guarda-chuva ou guarda-sol; que o filtram nas igrejas por vitrais, que usam lunetas, que o receiam sempre; que tem medo da morte às suas garras, deslumbramento e orgulho de águias soltas; só os homens, absurdíssimos macacos, querem copiá-lo em lonas, em madeiras, com tintas, com carvões, com paus de côr!...
Que macacos absurdos, que macacos!
Bem quis interrompê-la, não podia. Vibrava de loucura negadora, hierática, estranha, convulsiva.
—E nem poupam o mar nem as searas, as penedias trágicas, as rosas! Metem o{34} mar nuns centímetros de lona, e com medo que as marés vão sufocá-los (a águia ria, ria como louca) mandam emoldurá-lo, encaixilhá-lo!...
Prendem-no assim nas salas, nas alcovas. Oh! A Arte dos homens! Coisa imensa! A paródia da Vida... paralítica! Mas vá alguêm dizer-lho! Vão dizer-lho! Ainda os antigos cegavam as estátuas... Êstes abrem-lhes olhos, bem abertos, a reflectir... o quê? A vida dêles, a paródia de vida que êles vivem e que andam a imitar ainda por cima!...
A noite começava a entrar nas coisas. Um grito de pavão varou o parque, assustou os jardins que adormeciam, e um instante no ar, teve saudades... Uma angústia sem nome andava esparsa, caía das árvores grisalhas, que pareciam à escuta, com terror. Em frente o chorão vergava mais, quási rasava a terra com doçura, em curvas de um encanto nazareno. Uma sereia aguda de vapor, já a sair a barra certamente, mugiu como um agouro de naufrágio. A treva ia afogar tôda a gaiola. Não via bem{35} a águia, mal a via. Só os olhos e as asas muito vagas... Era um fantasma de águia àquela hora, mas crescia em mim desmesurada, como um ser de fábula e tragédia, oráculo sarcástico e sinistro, lendo o horóscopo num poleiro reles, como se rasgasse a esperança com as garras. Afinal era eu a sua presa, e ouvia-a passivo a torturar-me.
—A Arte dos homens! Que mentira triste! Em vez de serem belos como estátuas, derrancam mais os corpos para erguê-las! Até modelam sonhos e quimeras!...
Nunca olharam as nuvens, nunca as viram, esses mármores ao vento, fluctuando... E o vento! O vento! Sabem lá ouvi-lo! Tanto não sabem que quando êle prega, durante o inverno em que êle é todo génio, metem-se em casas grandes, bem fechadas, p'ra ouvir sons, sons, imensos sons... Chamam a isso Música. Conheço-a. Desde que vivo com os homens, perseguiu-me. Nem aqui na gaiola eu lhe escapei. Toca aos domingos horas, no coreto. Enche-me mais de raiva e de miséria. A música das{36} águias como é outra!... Quem a ouviu como eu quando era águia, antes de ser esta carcassa reles! Nas montanhas, no mar, na névoa móvel!... Sobretudo no mar, no grande mar... O que eu viajei nos temporais a ouvi-la! Ás vezes partíamos no vento em turbilhões, asas e asas, nómades, pairantes... Regougos de ondas, nuvens a rasgar-se, e os nossos gritos, bêbedas de espuma!... E mil vozes de formas nunca ouvidas, a voz de tudo, tudo, a voz de Pan! E o silêncio, o silêncio... Certos instantes únicos, supremos, em que êle se ouve, o temporal hesita, e um pânico arrepanha as asas todas... Como é agudo, agudo, êsse silêncio!... Nas meias-noites de estio... o que eu gostava de despertar no éter melodias, ferindo-lhe o teclado luminoso, numa alma de voo, sereníssima... Punha medo com o rumor das minhas asas às nuvens que dormiam extasiadas, e auscultava a noite pelo céu, até ouvir a manhã vibrando tôda, quando o ar é uma orquestra miriadaria e os homens dormem nas alcovas mornas...{37}
Estendeu por minutos seculares o seu monólogo patético de velha, essa arenga evocativa de fantasma, lapidando o meu ser com ironias, em que memórias épicas passavam, como o granizo aos pobres em dezembro. Todo o meu senso crítico se foi na rajada feroz dos seus desprezos: era uma fúria aguda de vingança, de esfrangalhar essa carcassa oráculo, varar-lhe os olhos com a ponteira da bengala, acabá-la de vez, estrangulá-la. Retorqui-lhe então com a voz dura, pondo raivas de morte nas palavras:
—Sim, sim... Diga ainda mais... o que quiser. Cante à sua vontade, minha amiga! Insulte os homens, ria, desgraçada. Nem me dou ao trabalho de a esmagar. Só lhe pergunto isto, apenas isto: quem a tem aí bem presa na gaiola? A si e a êsse mocho seu vizinho? Ao leopardo, ao lobo, a essas feras? Quem lhe dá por esmola bifes podres, e faz de si o riso das crianças, e a há-de empalhar depois de morta?... Você é uma águia tonta, dementada, que a{38} escravidão ensandeceu de vez. Melhor, melhor! Assim faz-nos rir mais. Grasne p'raí; rebente a divertir-nos!...
Parei pr'a tomar fôlego, cansado; mas o relevo imóvel dessa ave, a sua forma heráldica de bronze, alheavam-na tanto desta cólera, do desespero besta em que eu tremia, que me pareceu inútil continuar e me senti um títere grotesco. Era o mais infernal dos casuístas, essa águia impossível de ferir, feita de sombra, emoldurada em sombra, presa nessa gaiola e mais distante que se esgarçasse as asas nas estrelas. Emquanto assim pensava, ei-la que fala:
—Bem certo, sim, bem certo o que me diz! O Homem alastra pela terra como um cancro, pervertendo a vida, corroendo. Reduziu-me a mim, asas e garras, a um animal grotesco de capoeira, meio tonto de dor e de miséria. E as feras!... Exibem-nas nas feiras e nos circos, em gaiolas de ferro, à luz eléctrica, ante o pasmo alvar das multidões, rindo da força mutilada e doente. Cortam as jubas aos leões, abrem-lhes risca,{39} dão-lhes chicote e bifes, civilizam-nos! E quando os tem nas jaulas, sonolentos, sem força e sem instinto, entorpecidos, com as pupilas de oiro marasmadas, com as garras inúteis já sem preza, acham-se heróicos porque os chicoteiam, mesmo quando êles tremem de sezões, mesmo quando êles morrem de saudade!... Não há amor de asas num rochedo à névoa, que o terror dos homens não errice!... Antes disto, porém, já os adoraram. No Egipto, em tardes de colheita, o voo das íbis riscava no ar do Nilo curvas em que êles viam profecias... E outros como Isis, como Anúbis, sucumbiram no tédio de ser deuses, e depois das pompas rituais, de oferendas, de orações, de sacrifícios, são os servos misérrimos do homem, domesticados já, civilizados!
Mutilam as árvores, deformam-nas; exilam certas plantas nas estufas, com saudades do húmus e do sol, e trazem na lapela rosas mártires, que abriam de desejo como noivas, à espera do pólen bem-amado! Não entendem o sangue nem a seiva: vão pervertendo{40} tudo, corroendo! Até que um dia, não mais florestas, catedrais a Pan! A terra será calva como um sábio, e cordilheiras, montes e ravinas serão assassinadas, cavacadas, p'ra que os homens mobilem os palácios, p'ra que tenham poleiros nas gaiolas... Os areais, as deserteiras ruivas onde o mar espadana e se extasia, terão motores, instalações fabris p'ra utilizar a raiva das marés, em quê, deus-sol?... a enriquecer indústrias... Todo o azul será viuvo de asas, e os filhos das águias e das feras nascerão em gaiolas e em jaulas! Ah! Mas tambêm nada haverá mais triste do que os filhos dos homens, as crianças... A inocência, essa graça animal, de flôr e de ave, que êles chamam divina... os imbecis! não mais existirá nos filhos dêles, reflectindo nos olhos já doentes, a farça de viver, como nos velhos... Será assim um dia, será assim. Onde irão depois refugiar-se? Nos braços do amor, do amor dêles, em que um olhar de mulher lembra um naufrágio, e faz que, cada trança, por mais loira, venha a{41} ser sempre a fôrca de um destino! A terra será a catedral do sofrimento, fim da farça sinistra que êles vivem, a inventar anestésicos e dores!
Certo, o farrapo de penas que hoje sou, é bem obra dos homens. Certo, certo... Mas aqui mesmo, num poleiro reles, garras em cotos, quási paralítica, consola-me pensar que nenhum dêles será nunca o que eu fui, asas e garras, vivendo pr'ó Desejo pelo instinto, e em nomaderias de vertigem, amando tudo, tudo, a terra tôda, na luxúria suprema e inconsciente, de viver, de viver só por viver!
Fêz uma pausa. Tive a visão daquela vida fulgurante, evocada em gritos de delírio, por essa pitonisa de asas longas que cortava com o bico o meu destino.
Foi então que eu ouvi estas palavras, que eram mais que um soluço, que um crocito, uma espécie de guincho em que houve lágrimas.
—Iriam cair nas mãos dos homens os meus filhos!...{42}
Lambeu-me um calefrio de vertigem.
Era demais, meu Deus, era de mais! Não era já o meu orgulho em chaga, enovelado como um trapo nessas garras: o que eu agora queria, o que era urgente, era mostrar a essa águia, a essa mãe, que o seu dolorosíssimo terror era uma apreensão de louca, uma injustiça: o que eu agora queria de alma tôda, era mostrar-lhe o coração dos homens p'ra que ela o visse bem e tão patente, como se lhe pendesse a sangrar do bico curvo. Pr'à convencer daria tudo, tudo. Procurava um meio, sem achar. Sentia a inanidade das palavras. Com uma idea súbita falei-lhe:
—Vou abrir-lhe a gaiola. Vai ser livre.
Era decerto o pasmo que a gelava, porque não saiu da treva uma palavra. Eu continuei numa emoção crescente em que vibrava a ânsia de a soltar:
—Vai ser livre, livre como outrora. Acorde as suas asas esquecidas. Diga adeus a essa gaiola imunda. Olhe mesmo daí: que encanto de hora! A noite arqueia ao pêso{43} das estrelas... Uma palavra sua e abro-lhe a porta. Não duvide. Sou forte. É num instante...
O seu recorte altivo de águia em bronze amezendou: fôsse fadiga ou tédio. E num becejo vago, interrogou-me:
—Vai abrir-me a gaiola... mas p'ra quê?...
—P'ra quê?! P'ra que antes de morrer domine o espaço... p'ra sentir a vertigem do infinito...
—Eu?!... repetiu numa fleugma desdenhosa. Eu?!... Saír dêste poleiro, da gaiola? Não sou doida varrida por emquanto. Saír da minha casa, do conforto pr'á incerteza da noite, p'rò mistério?... Sou uma águia mas vivi entre homens. Já estou civilizada, meu senhor... E se o vento me arranca as asas velhas? E se chover, e se chover? Já pensou nisso? Nem com as garras enluvadas eu me atrevo... Nem que me cubra as asas de impermeáveis...
Nem com um water-proof, nem assim...
A águia ria, ria doidamente. Crispei as{44} mãos nos arames, exasperado, e com uma voz enrouquecida fui dizendo, num tom de confissão, quási febril:
—Imagina talvez que a não entendo, que sou um homem como os outros, imagina...
É natural... é natural. Não me conhece... Mas eu quero dizer-lhe: oiça! oiça!
Há em mim um não sei quê de águia marinha. A sua sorte comove-me, acredite. Quero tambêm dizer-lhe o meu segredo, quero desabafar, contar-lhe tudo...
Bateu as asas com um ruído sêco, e num timbre fatídico de corvo, com uma voz de sibila, crocitante, atirou-me estas palavras derradeiras:
É cedo, é cedo ainda. Imite os outros. Diga isso ao morrer ao travesseiro.
Esse sarcasmo último transiu-me; e como quem se agarra ainda á esperança, pus-me a gritar p'rà gaiola, tontamente:
—É o convívio dos homens que nos perde. O seu destino é irmão do meu, escute... Queria ser forte e belo, queria...
Falei, falei, falei... Não sei que disse.{45}
Sandices e quimeras e desejos, larvas de ideas, raivas, desesperos. Parei por fim.
Já nem lhe via os olhos. Decerto cerrara as pálpebras com tédio. Só o vulto de sombra sôbre a sombra se alongara mais, estava maior. Ouvi então uma sineta banalíssima, a pôr-me fora sêcamente: era já tarde. Olhei ainda a gaiola, despedi-me, atirei-lhe p'ra lá um «adeus» surdo. Ao passar na jaula do leopardo, senti um cheiro mau a carne podre. Vi-lhe o vulto enigmático de esfinge, a cabeça nas patas dianteiras, os olhos de oiro fulvo, fuzilando. Se aquele me falasse, o que diria!... Atravessei o parque silencioso, como numa balada, com terror. Vi nas acácias os pavões adormecidos, olhei o céu filtrado por folhagens onde um langor de outono se esfolhava, e à saída já, p'ra me calmar, molhei as mãos febris numa das taças e passei-as nas fontes consolado.
Achei-me emfim na rua, longe dela.
Um rapaz namorava mesmo em frente, a patrulha descia compassada, disse-me adeus{46} um côco conhecido: dobrava a esquina um eléctrico apinhado. Tinha ainda no ouvido a voz da águia, quando saiu de uma janela aberta uma ária roufenha de fonógrafo.
Comuniquei feliz com a vida reles. Depois disto, é evidente, não posso mais falar-lhe. Ainda bem! Levava-me ao suicídio essa águia velha.

M. TVLLI CICERONIS IN M. ANTONIVM ORATIO PHILIPPICA QVARTA DECIMA

[1] [I] Si, ut ex litteris, quae recitatae sunt, patres conscripti, sceleratissimorum hostium exercitum caesum fusumque cognovi, sic id, quod et omnes maxime optamus et ex ea victoria, quae parta est, consecutum arbitramur, D. Brutum egressum iam Mutina esse cognovissem, propter cuius periculum ad saga issemus, propter eiusdem salutem redeundum ad pristinum vestitum sine ulla dubitatione censerem. Ante vero quam sit ea res, quam avidissime civitas exspectat, allata, laetitia frui satis est maximae praeclarissimaeque pugnae; reditum ad vestitum confectae victoriae reservate. Confectio autem huius belli est D. Bruti salus.
[2] Quae autem est ista sententia, ut in hodiernum diem vestitus mutetur, deinde cras sagati prodeamus? Nos vero cum semel ad eum, quem cupimus optamusque, vestitum redierimus, id agamus, ut eum in perpetuum retineamus. Nam hoc quidem cum turpe est, tum ne dis quidem immortalibus gratum, ab eorum aris, ad quas togati adierimus, ad saga sumenda discedere.
[3] Atque animadverto , patres conscripti, quosdam huic favere sententiae; quorum ea mens idque consilium est, ut, cum videant gloriosissimum illum D. Bruto futurum diem, quo die propter eius salutem redierimus ad vestitum, hunc ei fructum eripere cupiant, ne memoriae posteritatique prodatur propter unius civis periculum populum Romanum ad saga isse, propter eiusdem salutem redisse ad togas. Tollite hanc; nullam tam pravae sententiae causam reperietis. Vos vero, patres conscripti, conservate auctoritatem vestram, manete in sententia, tenete vestra memoria, quod saepe ostendistis, huius totius belli in unius viri fortissimi et maximi vita positum esse discrimen.
[II][4] Ad D. Brutum liberandum legati missi principes civitatis, qui illi hosti ac parricidae denuntiarent, ut a Mutina discederet; eiusdem D. Bruti conservandi gratia consul sortitu ad bellum profectus A. Hirtius, cuius inbecillitatem valetudinis animi virtus et spes victoriae confirmavit; Caesar cum exercitu per se comparato, cum prius pestibus rem publicam liberasset, ne quid postea sceleris oriretur, profectus est ad eundem Brutum liberandum vicitque dolorem aliquem domesticum patriae caritate.
[5] Quid C. Pansa egit aliud dilectibus habendis, pecuniis comparandis, senatus consultis faciendis gravissimis in Antonium, nobis cohortandis, populo Romano ad causam libertatis vocando, nisi ut D. Brutus liberaretur? A quo populus Romanus frequens ita salutem D. Bruti una voce depoposcit, ut eam non solum commodis suis, sed etiam necessitati victus anteferret. Quod sperare nos quidem debemus, patres conscripti, aut inibi esse aut iam esse confectum; sed spei fructum rei convenit et evento reservari, ne aut deorum inmortalium beneficium festinatione praeripuisse aut vim fortunae stultitia contempsisse videamur.
[6] Sed quoniam significatio vestra satis declarat, quid hac de re sentiatis, ad litteras veniam, quae sunt a consulibus et a propraetore missae, si pauca ante, quae ad ipsas litteras pertineant, dixero. [III] Imbuti gladii sunt, patres conscripti, legionum exercituumque nostrorum vel madefacti potius duobus duorum consulum, tertio Caesaris proelio. Si hostium fuit ille sanguis, summa militum pietas, nefarium scelus, si civium. Quousque igitur is, qui omnes hostes scelere superavit, nomine hostis carebit? nisi mucrones etiam nostrorum militum tremere vultis dubitantis, utrum in cive an in hoste figantur.
[7] Supplicationem decernitis, hostem non appellatis. Gratae vero nostrae dis immortalibus gratulationes erunt, gratae victimae, cum interfecta sit civium multitudo! 'De improbis', inquit 'et audacibus.' Nam sic eos appellat clarissimus vir; quae sunt urbanarum maledicta litium, non inustae belli internecivi notae. Testamenta, credo, subiciunt aut eiciunt vicinos aut adulescentulos circumscribunt; his enim vitiis adfectos et talibus malos aut audaces appellare consuetudo solet.
[8] Bellum inexpiabile infert quattuor consulibus unus omnium latronum taeterrimus, gerit idem bellum cum senatu populoque Romano, omnibus (quamquam ruit ipse suis cladibus) pestem, vastitatem, cruciatum, tormenta denuntiat, Dolabellae ferum et inmane facinus, quod nulla barbaria posset agnoscere, id suo consilio factum esse testatur; quaeque esset facturus in hac urbe, nisi eum hic ipse Iuppiter ab hoc templo atque moenibus reppulisset, declaravit in Parmensium calamitate, quos optimos viros honestissimosque homines maxime cum auctoritate huius ordinis populique Romani dignitate coniunctos crudelissimis exemplis interemit propudium illud et portentum, L. Antonius, insigne odium omnium hominum vel, si etiam di oderunt, quos oportet, deorum.
[9] Refugit animus, patres conscripti, eaque dicere reformidat, quae L. Antonius in Parmensium liberis et coniugibus effecerit. Quas enim turpitudines Antonii libenter cum dedecore subierunt, easdem per vim laetantur aliis se intulisse. Sed vis calamitosa est quam illis obtulerunt, libido flagitiosa, qua Antoniorum oblita est vita. Est igitur quisquam, qui hostis appellare non audeat, quorum scelere crudelitatem Carthaginiensium victam esse fateatur? [IV] Qua enim in urbe tam inmanis Hannibal capta quam in Parma surrepta Antonius? nisi forte huius coloniae et ceterarum, in quas eodem est animo, non est hostis putandus.
[10] Si vero coloniarum et municipiorum sine ulla dubitatione hostis est, quid tandem huius censetis urbis, quam ille ad explendas egestates latrocinii sui concupivit, quam iam peritus metator et callidus decempeda sua Saxa diviserat? Recordamini, per deos immortales! patres conscripti, quid hoc biduo timuerimus a domesticis hostibus rumoribus improbissimis dissipatis. Quis liberos, quis coniugem aspicere poterat sine fletu, quis domum, quis tecta, quis larem familiarem? Aut foedissimam mortem omnes aut miserabilem fugam cogitabant. Haec a quibus timebantur, eos hostes appellare dubitamus? Gravius si quis attulerit nomen, libenter adsentiar; hoc vulgari contentus vix sum, leviore non utar.
[11] Itaque, cum supplicationes iustissimas ex iis litteris, quae recitatae sunt, decernere debeamus Serviliusque decreverit, augebo omnino numerum dierum, praesertim cum non uni, sed tribus ducibus sint decernendae; sed hoc primum faciam, ut imperatores appellem eos, quorum virtute, consilio, felicitate maximis periculis servitutis atque interitus liberati sumus. Etenim cui viginti his annis supplicatio decreta est, ut non imperator appellaretur aut minimis rebus gestis aut plerumque nullis? Quam ob rem aut supplicatio ab eo, qui ante dixit, decernenda non fuit aut usitatus honos pervulgatusque tribuendus iis, quibus etiam novi singularesque debentur.
[V][12] An, si quis Hispanorum aut Gallorum aut Threcum mille aut duo milia occidisset, illum hac consuetudine, quae increbuit, imperatorem appellaret senatus; tot legionibus caesis, tanta multitudine hostium interfecta (hostium dico; ita, inquam, hostium, quamvis hoc isti hostes domestici nolint) clarissimis ducibus supplicationum honorem tribuemus, imperatorium nomen adimemus? Quanto enim honore, laetitia, gratulatione in hoc templum ingredi debent illi ipsi huius urbis liberatores, cum hesterno die propter eorum res gestas me ovantem et prope triumphantem populus Romanus in Capitolium domo tulerit, domum inde reduxerit?
[13] Is enim demum est mea quidem sententia iustus triumphus ac verus, cum bene de re publica meritis testimonium a consensu civitatis datur. Nam sive in communi gaudio populi Romani uni gratulabantur, magnum iudicium, sive uni gratias agebant, eo maius, sive utrumque, nihil magnificentius cogitari potest. 'Tu igitur ipse de te?' dixerit quispiam. Equidem invitus, sed iniuriae dolor facit me praeter consuetudinem gloriosum. Nonne satis est ab hominibus virtutis ignaris gratiam bene merentibus non referri? etiam in eos, qui omnes suas curas in rei publicae salute defigunt, impetus crimen invidia quaeretur?
[14] Scitis enim per hos dies creberrimum fuisse sermonem, me Parilibus, qui dies hodie est, cum fascibus descensurum. In aliquem credo hoc gladiatorem aut latronem aut Catilinam esse conlatum, non in eum, qui, ne quid tale in re publica fieri posset, effecerit. An ut ego, qui Catilinam haec molientem sustulerim, everterim, adflixerim, ipse existerem repente Catilina? Quibus auspiciis istos fascis augur acciperem, quatenus haberem, cui traderem? Quemquamne fuisse tam sceleratum, qui hoc fingeret, tam furiosum, qui crederet? Unde igitur ista suspicio vel potius unde iste sermo?
[VI][15] Cum, ut scitis, hoc triduo vel quadriduo tristis a Mutina fama manaret, inflati laetitia atque insolentia impii cives unum se in locum ad illam curiam furiis potius suis quam rei publicae infelicem congregabant. Ibi cum consilia inirent de caede nostra partirenturque inter se, qui Capitolium, qui rostra, qui urbis portas occuparent, ad me concursum futurum civitatis putabant. Quod ut cum invidia mea fieret et cum vitae etiam periculo, famam istam fascium dissipaverunt, fascis ipsi ad me delaturi fuerunt. Quod cum esset quasi mea voluntate factum, tum in me impetus conductorum hominum quasi in tyrannum parabatur, ex quo caedes esset vestrum omnium consecuta. Quae res patefecit, patres conscripti, sed suo tempore totius huius sceleris fons aperietur.
[16] Itaque P. Apuleius, tribunus pl., meorum omnium consiliorum periculorumque iam inde a consulatu meo testis, conscius, adiutor, dolorem ferre non potuit doloris mei; contionem habuit maximam populo Romano unum atque idem sentiente. In qua contione cum me pro summa nostra coniunctione et familiaritate liberare suspicione fascium vellet, una voce cuncta contio declaravit nihil esse a me umquam de re publica nisi optime cogitatum. Post hanc habitam contionem duabus tribusve horis optatissimi nuntii et litterae venerunt, ut idem dies non modo iniquissima me invidia liberarit, sed etiam celeberrima populi Romani gratulatione auxerit.
[17] Haec interposui, patres conscripti, non tam ut pro me dixerim (male enim mecum ageretur, si parum vobis essem sine defensione purgatus), quam ut quosdam nimis ieiuno animo et angusto monerem, id quod semper ipse fecissem, uti excellentium civium virtutem imitatione dignam, non invidia putarent. Magnus est in re publica campus, ut sapienter dicere Crassus solebat, multis apertus cursus ad laudem. [VII] Utinam quidem illi principes viverent, qui me post meum consulatum, cum iis ipse cederem, principem non inviti videbant! Hoc vero tempore in tanta inopia constantium et fortium consularium quo me dolore affici creditis, cum alios male sentire, alios nihil omnino curare videam, alios parum constanter in suscepta causa permanere sententiamque suam non semper utilitate rei publicae, sed tum spe, tum timore moderari?
[18] Quod si quis de contentione principatus laborat, quae nulla esse debet, stultissime facit, si vitiis cum virtute contendit; ut enim cursu cursus, sic in viris fortibus virtus virtute superatur. Tu, si ego de re publica optime sentiam, ut me vincas, ipse pessime senties aut, si ad me bonorum concursum fieri videbis, ad te improbos invitabis? Nollem primum rei publicae causa, deinde etiam dignitatis tuae. Sed si principatus ageretur, quem numquam expetivi, quid tandem mihi esset optatius? Ego enim malis sententiis vinci non possum, bonis forsitan possim et libenter.
[19] Haec populum Romanum videre, animadvertere, iudicare quidam moleste ferunt. Poteratne fieri, ut non proinde hominesdequoque, ut quisque mereretur, iudicarent? Ut enim de universo senatu populus Romanus verissime iudicat nullis rei publicae temporibus hunc ordinem firmiorem aut fortiorem fuisse, sic de uno quoque nostrum et maxime, qui hoc loco sententias dicimus, sciscitantur omnes, avent audire, quid quisque senserit; ita de quoque, ut quemque meritum arbitrantur, existimant. Memoria tenent me ante diem XIII Kalendas Ianuarias principem revocandae libertatis fuisse, me ex Kalendis Ianuariis ad hanc horam invigilasse rei publicae,
[20] meam domum measque auris dies noctesque omnium praeceptis monitisque patuisse, meis litteris, meis nuntiis, meis cohortationibus omnes, qui ubique essent, ad patriae praesidium excitatos, meis sententiis a Kalendis Ianuariis numquam legatos ad Antonium, semper illum hostem, semper hoc bellum, ut ego, qui omni tempore verae pacis auctor fuissem, huic essem nomini pestiferae pacis inimicus.
[21] Idem P. Ventidium, cum alii praetorem [Volusenum], ego semper hostem. Has in sententias meas si consules discessionem facere voluissent, omnibus istis latronibus auctoritate ipsa senatus iam pridem de manibus arma cecidissent. [VIII] Sed, quod tum non licuit, patres conscripti, id hoc tempore non solum licet, verum etiam necesse est, eos, qui re sunt hostes, verbis notari, sententiis nostris hostes iudicari.
[22] Antea cum hostem ac bellum nominassem, semel et saepius sententiam meam de numero sententiarum sustulerunt, quod in hac causa iam fieri non potest. Ex litteris enim C. Pansae A. Hirti consulum, C. Caesaris pro praetore de honore dis immortalibus habendo sententias dicimus. Supplicationem modo qui decrevit, idem imprudens hostes iudicavit; numquam enim in civilis bello supplicatio decreta est. Decretam dico; ne victoris quidem litteris postulata est.
[23] Civile bellum consul Sulla gessit, legionibus in urbem adductis, quos voluit, expulit, quos potuit, occidit; supplicationis mentio nulla. Grave bellum Octavianum insecutum est; supplicatio [Cinnae} nulla victori. Cinnae victoriam imperator ultus est Sulla; nulla supplicatio decreta a senatu. Ad te ipsum, P. Servili, num misit ullas collega litteras de illa calamitosissima pugna Pharsalia, num te de supplicatione voluit referre? Profecto noluit. At misit postea de Alexandria, de Pharnace; Pharsaliae vero pugnae ne triumphum quidem egit. Eos enim cives pugna illa sustulerat, quibus non modo vivis, sed etiam victoribus incolumis et florens civitas esse posset.
[24] Quod idem contigerat superioribus bellis civilibus. Nam mihi consuli supplicatio nullis armis sumptis non ob caedem hostium, sed ob conservationem civium novo et inaudito genere decreta est. Quam ob rem aut supplicatio re publica pulcherrime gesta postulantibus nostris imperatoribus deneganda est, quod praeter Gabinium contigit nemini, aut supplicatione decernenda hostes eos, de quibus decernitis, iudicetis necesse est. [IX] Quod ergo ille re, id ego etiam verbo, cum imperatores eos appello; hoc ipso nomine et eos, qui iam devicti sunt, et eos, qui supersunt, hostes iudico, cum victores appello imperatores.
[25] Quo modo enim potius Pansam appellem, etsi habet honoris nomen amplissimi, quo Hirtium? Est ille quidem consul, sed alterum nomen beneficii populi Romani est, alterum virtutis atque victoriae. Quid? Caesarem, deorum beneficio rei publicae procreatum dubitemne appellare imperatorem? qui primus Antoni inmanem et foedam crudelitatem non solum a iugulis nostris, sed etiam a membris et visceribus avertit. Unius autem diei quot et quantae virtutes, di immortales, fuerunt!
[26] Princeps enim omnium Pansa proelii faciendi et cum Antonio confligendi fuit, dignus imperator legione Martia, digna legio imperatore. Cuius si acerrimum impetum cohibere Pansa potuisset, uno proelio confecta res esset. Sed cum libertatis avida legio effrenatius in aciem hostium inrupisset ipseque in primis Pansa pugnaret, duobus periculosis vulneribus acceptis sublatus e proelio rei publicae vitam reservavit. Ego vero hunc non solum imperatorem, sed etiam clarissimum imperatorem iudico, qui cum aut morte aut victoria se satis facturum rei publicae spopondisset, alterum fecit, alterius di immortales omen avertant!
[X] [27] Quid dicam de Hirtio? qui re audita e castris duas legiones eduxit incredibili studio atque virtute, quartam illam, quae relicto Antonio se olim cum Martia legione coniunxit, et septimam, quae constituta ex veteranis docuit hoc proelio militibus iis, qui Caesaris beneficia servassent, senatus populique Romani carum nomen esse. His viginti cohortibus nullo equitatu Hirtius ipse aquilam quartae legionis cum inferret, qua nullius pulchriorem speciem imperatoris accepimus, cum tribus Antoni legionibus equitatuque conflixit hostesque nefarios huic Iovis Optimi Maximi ceterisque deorum immortalium templis, urbis tectis, libertati populi Romani, nostrae vitae sanguinique imminentes prostravit, fudit, occidit, ut cum admodum paucis nocte tectus, metu perterritus princeps latronum duxque fugerit. O solem ipsum beatissimum, qui antequam se abderet, stratis cadaveribus parricidarum cum paucis fugientem vidit Antonium!
[28] An vero quisquam dubitabit appellare Caesarem imperatorem? Aetas eius certe ab hac sententia neminem deterrebit, quandoquidem virtute superavit aetatem. Ac mihi semper eo maiora beneficia C. Caesaris visa sunt, quo minus erant ab aetate illa postulanda; cui cum imperium dabamus, eodem tempore etiam spem eius nominis deferebamus; quod cum est consecutus, auctoritatem decreti nostri rebus gestis suis comprobavit. Hic ergo adulescens maximi animi, ut verissime scribit Hirtius, castra multarum legionum paucis cohortibus tutatus est secundumque proelium fecit. Ita trium imperatorum virtute, consilio, felicitate uno die locis pluribus res publica est conservata.
[XI] [29] Decerno igitur eorum trium nomine quinquaginta dierum supplicationes; causas, ut honorificentissimis verbis consequi potuero, complectar ipsa sententia. Est autem fidei pietatisque nostrae declarare fortissimis militibus, quam memores simus quamque grati. Quam ob rem promissa nostra atque ea, quae legionibus bello confecto tributuros nos spopondimus, hodierno senatus consulto renovanda censeo; aequum est enim militum, talium praesertim, honorem coniungi.
[30] Atque utinam, patres conscripti, [civibus] omnibus solvere nobis praemia liceret! quamquam nos ea, quae promisimus, studiose cumulata reddemus. Sed id quidem restat, ut spero, victoribus, quibus senatus fides praestabitur: quam quoniam difficillimo rei publicae tempore secuti sunt, eos numquam oportebit consilii sui paenitere. Sed facile est bene agere cum iis, a quibus etiam tacentibus flagitari videmur; illud admirabilius et maius maximeque proprium senatus sapientis est, grata eorum virtutem memoria prosequi, qui pro patria vitam profuderunt.
[31] Quorum de honore utinam mihi plura in mentem venirent! Duo certe non praeteribo, quae maxime occurrunt, quorum alterum pertinet ad virorum fortissimorum gloriam sempiternam, alterum ad leniendum maerorem et luctum proximorum. [XII] Placet igitur mihi, patres conscripti, legionis Martiae militibus et eis, qui una pugnantes occiderint, monumentum fieri quam amplissimum. Magna atque incredibilia sunt in rem publicam huius merita legionis. Haec se prima latrocinio abrupit Antoni, haec tenuit Albam, haec se ad Caesarem contulit, hanc imitata quarta legio parem virtutis gloriam consecuta est. Quarta victrix desiderat neminem; ex Martia non nulli in ipsa victoria conciderunt. O fortunata mors, quae naturae debita pro patria est potissimum reddita!
[32] Vos vero patriae natos iudico, quorum etiam nomen a Marte est, ut idem deus urbem hanc gentibus, vos huic urbi genuisse videatur. In fuga foeda mors est, in victoria gloriosa. Etenim Mars ipse ex acie fortissimum quemque pignerari solet. Illi igitur impii, quos cecidistis, etiam ad inferos poenas parricidii luent, vos vero, qui extremum spiritum in victoria effudistis, piorum estis sedem et locum consecuti. Brevis a natura vita vobis data est, at memoria bene redditae vitae sempiterna. Quae si non esset longior quam haec vita, quis esset tam amens, qui maximis laboribus et periculis ad summam laudem gloriamque contenderet?
[33] Actum igitur praeclare vobiscum, fortissimi, dum vixistis, nunc vero etiam sanctissimi milites, quod vestra virtus neque oblivione eorum, qui nunc sunt, nec reticentia posterorum sepulta esse poterit, cum vobis inmortale monumentum suis paene manibus senatus populusque Romanus exstruxerit. Multi saepe exercitus Punicis, Gallicis, Italicis bellis clari et magni fuerunt, nec tamen ullis tale genus honoris tributum est. Atque utinam maiora possemus, quandoquidem a vobis maxima accepimus! Vos ab urbe furentem Antonium avertistis, vos redire molientem reppulistis. Erit igitur exstructa moles opere magnifico incisaeque litterae divinae virtutis testes sempiternae, numquam de vobis eorum, qui aut videbunt vestrum monumentum aut audient, gratissimus sermo conticescet. Ita pro mortali condicione vitae inmortalitatem estis consecuti.
[XIII][34] Sed quoniam, patres conscripti, gloriae munus optimis et fortissimis civibus monumenti honore persolvitur, consolemur eorum proximos, quibus optima est haec quidem consolatio, parentibus, quod tanta rei publicae praesidia genuerunt, liberis, quod habebunt domestica exempla virtutis, coniugibus, quod iis viris carebunt, quos laudare quam lugere praestabit, fratribus, quod in se ut corporum, sic virtutis similitudinem esse confident. Atque utinam his omnibus abstergere fletum sententiis nostris consultisque possemus vel aliqua talis iis adhiberi publice posset oratio, qua deponerent maerorem atque luctum gauderentque potius, cum multa et varia impenderent hominibus genera mortis, id genus, quod esset pulcherrimum suis obtigisse eosque nec inhumatos esse nec desertos, quod tamen ipsum pro patria non miserandum putatur, nec dispersis bustis humili sepultura crematos, sed contectos publicis operibus atque muneribus eaque extructione, quae sit ad memoriam aeternitatis ara Virtutis.
[35] Quam ob rem maximum quidem solacium erit propinquorum eodem monumento declarari et virtutem suorum et populi Romani pietatem et senatus fidem et crudelissimi memoriam belli; in quo nisi tanta militum virtus exstitisset, parricidio M. Antoni nomen populi Romani occidisset. Atque etiam censeo, patres conscripti, quae praemia militibus promisimus nos re publica reciperata tributuros, ea vivis victoribusque cumulate, cum tempus venerit, persolvenda; qui autem ex iis, quibus illa promissa sunt, pro patria occiderunt, eorum parentibus, liberis, coniugibus, fratribus eadem tribuenda censeo.
[XIV][36] Sed ut aliquando sententiam complectar, ita censeo: 'cum C. Pansa consul, imperator, initium cum hostibus confligendi fecerit, quo proelio legio Martia admirabili incredibilique virtute libertatem populi Romani defenderit, quod idem legiones tironum fecerint, ipseque C. Pansa consul, imperator, cum inter media hostium tela versaretur, vulnera acceperit, cumque A. Hirtius consul, imperator, proelio audito, re cognita, fortissimo praestantissimoque animo exercitum castris eduxerit impetumque in M. Antonium exercitumque hostium fecerit eiusque copias occidione occiderit suo exercitu ita incolumi, ut ne unum quidem militem desiderarit,
[37] cumque C. Caesar pro praetore, imperator, consilio diligentiaque sua castra feliciter defenderit copiasque hostium, quae ad castra accesserant, profligarit, occiderit: ob eas res senatum existimare et iudicare eorum trium imperatorum virtute, imperio, consilio, gravitate, constantia, magnitudine animi, felicitate populum Romanum foedissima crudelissimaque servitute liberatum; cumque rem publicam, urbem, templa deorum immortalium, bona fortunasque omnium liberosque conservarint dimicatione et periculo vitae suae, uti ob eas res bene, fortiter feliciterque gestas C. Pansa A. Hirtius consules, imperatores, alter ambove, aut, si aberunt, M. Cornutus, praetor urbanus, supplicationes per dies quinquaginta ad omnia pulvinaria constituat;
[38] cumque virtus legionum digna clarissimis imperatoribus extiterit, senatum, quae sit antea pollicitus legionibus exercitibusque nostris, ea summo studio re publica recuperata persoluturum; cumque legio Martia princeps cum hostibus conflixerit atque ita cum maiore numero hostium contenderit, ut, cum plurimos caederent, caderent non nulli, cumque sine ulla retractatione pro patria vitam profuderint; cumque simili virtute reliquarum legionum milites pro salute et libertate populi Romani mortem oppetiverint: senatui placere, ut C. Pansa A. Hirtius consules, imperatores, alter ambove, si eis videatur, iis qui sanguinem pro vita, libertate, fortunis populi Romani, pro urbe, templis deorum immortalium profudissent, monumentum quam amplissimum locandum faciendumque curent quaestoresque urb. ad eam rem pecuniam dare, attribuere, solvere iubeant, ut exstet ad memoriam posteritatis sempiternam scelus crudelissimorum hostium militumque divina virtus, utique, quae praemia senatus militibus ante constituit, ea solvantur eorum, qui hoc bello pro patria occiderunt, parentibus, liberis, coniugibus, fratribus, iisque tribuantur, quae militibus ipsis tribui oporteret, si vivi vicissent, qui morte vicerunt.

Thursday 14 July 2011

Foul-mouthed tirade from Diaz

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Cameron Diaz makes school corridors her playground in new movie Bad Teacher.

Who'll survive the Harlem shuffle?

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Ben Pobjie | The MasterChef underperformers are forced into an elimination challenge that will change everything forever - or not.

Police raid Picasso thief's home

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2:19pm | Audacious art thief Mark Lugo 'casually removed the Picasso from the wall, wrapped it, and hopped into a taxi'.

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Wagons' new album, <i>Rumble, Shake and Tumble</i>, is their best in a decade, according to Henry Wagons.
Martin Boulton | Melbourne's countrified outlaw rockers are setting their sights on new frontiers.

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Michael Lallo | Martin Short tells tales of drunken royals and Kevin Rudd's resemblance to k.d. lang.

When Larry met no salary

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Stephanie Bunbury | Tom Hanks knows what works in movies but his character in Larry Crowne needs schooling.

Movie companies snuff smoking

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Mike Stobbe 12:56pm | Tobacco scenes have declined by about 96 per cent in three of the major film companies' films over the past five years.

Your weekend ...

Clare Bowditch and Lanie Lane's Winter Secrets tour hits Melbourne this weekend.
12:01am | From Clare Bowditch to Circus Oz ... our pick of this weekend's events.

Live music: Friday

Not a ruthless drug gang but a lively Gold Coast quartet, Tijuana Cartel are playing the East Brunswick club.
12:00am | Not a ruthless drug gang but a lively Gold Coast quartet, Tijuana Cartel are playing the East Brunswick club.

Tonight's TV

Hustle

Hustle
Malavika Santhebennur 12:01am | It borders on the cheesy but you go with it because it's a fun, stress-free watch.

Burn Notice

Burn Notice
Malavika Santhebennur 12:00am | Bruce Campbell shines in this episode as Sam Axe, who is out for justice when he discovers his friend is dead.

New York

Times Square in New York City.
Malavika Santhebennur 12:00am | Part three of this five-part documentary delves into 19th-century New York.

The Glee Project

The Glee Project
Malavika Santhebennur 12:00am | The executive producers are looking to find a new person to join their hit show Glee.

Video

Lady Gaga leaves her hotel

Fans go Gaga (Thumbnail)
9:43am | RAW VISION: Lady Gaga is cheered by fans as she leaves her Sydney hotel Thursday.

Weird Al struggles with Gaga

Weird Al struggles to Perform This Way (Thumbnail)
11:41am | Weird Al Yankovic talks about his struggle for clearance to cover Lady Gaga's 'Born This Way' for his latest album.

Special Treatment - Trailer

Special Treatment - Trailer (Thumbnail)
2:07pm | Prostitutes and therapists have more in common than you think.

Henry Wagons

1Wagons
11:55pm | Henry Wagons at home with Martin Boulton.     

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